sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

O cristão é aquele que respira o Espírito de Cristo

 O Senhor está no meio de nós! Não esqueçamos que a maior tentação vivida por Israel no deserto foi justamente a de se perguntar: “O Senhor está no meio de nós ou não?” (Ex 17, 7). Eis a pouca fé ou a não fé da qual somos vítimas, nós que nos dizemos crentes...

Na verdade, Jesus está no meio de nós sempre, é o ‘Immanuel, Deus-conosco (cf. Mt 1, 23; 28, 20), não nos deixa, não nos abandona. No máximo, somos nós que o abandonamos e fugimos dele, como os discípulos no Getsêmani (cf. Mc 14, 50; Mt 26, 56); somos nós que, diante do mundo, acabamos dizendo: “Não o conhecemos”, como Pedro na negação (Mc 14, 71 e par.); somos nós que, quando devemos constatar a sua presença porque os outros no-la testemunham, continuamos desconfiando e alimentando dúvidas, como Tomé (cf. Jo 20, 24-25).

Mas, naquele corpo de glória, permanecem os traços da sua vivência humana, do seu sofrimento-paixão, do fato de ter amado até dar a vida pelos outros (Jo 15, 13). São as chagas, os estigmas, os sinais da cruz na qual ele foi pendurado e, junto com eles, o sinal da abertura do peito por causa do golpe da lança, abertura que proclamava o seu amor, que, como rio saído dele, queria imergir a humanidade para perdoá-la, purificá-la e levá-la à comunhão com o Pai (cf. Jo 7, 37-39; 19, 34).

E, assim, os discípulos o reconhecem e se alegram ao ver o Senhor. Finalmente a sua incredulidade é vencida, e a alegria da sua presença, da sua vida neles os invade. Então, Jesus sopra sobre eles a sua respiração, que não é mais hálito de homem, mas Espírito Santo. Na criação do homem, no princípio, Deus tinha soprado nele um hálito de vida (cf. Gn 2, 7); na última criação, soprará um sopro, um vento de vida eterna (cf. Ez 37, 9): enquanto isso, agora, todas as vezes que ele está presente na comunidade dos cristãos e é por eles invocado e reconhecido, o Espírito continua expirando. Essa respiração do Ressuscitado se torna a respiração do cristão: nós respiramos o Espírito Santo! Cada um de nós respira esse Espírito, embora nem sempre o reconheçamos, embora, muitas vezes, o entristeçamos (cf. Ef 4, 30) e o estrangulemos, nas nossas revoltas, nas nossas recusas resíduos do amor e da vida de Deus.

Esse Sopro que entra em nós e se une ao nosso sopro tem como primeiro efeito a remissão dos pecados. Ele os perdoa, os apaga, de modo que Deus não os recorda mais. Esse Sopro é como um abraço que nos coloca “no seio do Pai” (en tô kólpo toû Patrós: cf. Jo 1, 18), nos une a Deus de modo que não somos mais órfãos, mas nos sentimos amados sem medida por um amor que não merecemos nem devemos merecer todos os dias.

“Recebam o Espírito”, diz Jesus, isto é, “acolham-no como um dom”. Uma só coisa é pedida: não recusar o dom, porque o Pai sempre dá o Espírito Santo àqueles que lho pedem (cf. Lc 11, 13). É o dom da vida plena; o dom do amor que nós não seríamos capazes de viver; o dom da alegria que desfrutaremos todos os dias; o dom que nos permite respirar em comunhão com os irmãos e as irmãs, confessando com eles uma só fé e uma só esperança; o dom que nos faz falar em nome de todas as criaturas como voz que louva e confessa o Criador e Senhor.

Jesus, que antes de ir embora havia dito: “Recebam, comam; este é o meu corpo” (Mt 26, 27), agora diz: “Recebam o Espírito Santo”, sempre o mesmo convite a acolher o dom.

Cabe a nós receber o corpo de Cristo para nos tornarmos o corpo de Cristo, cabe a nós receber o Espírito Santo para respirarmos o Espírito.

E, nessa nova vida animada pelo Sopro Santo, sempre e sempre, ocorre a remissão dos pecados: Deus os perdoa a nós, e nós os perdoamos aos outros que pecaram contra nós (cf. Mt 6, 12; Lc 11, 4). Não há libertação senão da morte, do mal e do pecado! O Pentecostes é a festa dessa libertação que a Páscoa nos deu, libertação que alcança a nossa vida cotidiana com as suas fadigas, as suas quedas, o mal que as aprisiona.

Podemos realmente confessar: o cristão é aquele que respira o Espírito de Cristo, o Espírito Santo de Deus e, graças a esse Espírito, é santificado, reza ao seu Senhor, ama o seu próximo.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/42-noticias/comentario-do-evangelho/568288-respirar-o-espirito-santo

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